Sou ciumenta, definitivamente
sou. Tenho ciúmes das minhas lembranças. Do meu namorado eu deixo passar,
aprendi que um pouco de desapego faz bem, mas não me venha se colocar em
lembranças da minha história e que você não estava. Prezemos o bom senso!
Não me venha falar que você era
mais fã de Westlife que eu, pois logo perguntarei qual a data de nascimento do
Mark e qual a segunda faixa do terceiro disco deles. Fui eu quem beijou por
noites a fio o pôster gigante colado na parede e fez brigadeiro de colher pra
comemorar os 23 anos do Kian. E que chorei a distância, e que fiz simpatia pra
me casar com ele. E só elas participaram dessa jornada comigo.
Eu e minhas amigas éramos cinco.
Quatro por um tempo, depois cinco. Inseparáveis e estranhas. Nadávamos contra a
maré, mal percebendo que a correnteza era pro outro lado. Éramos felizes assim,
nesse mundinho nosso de cinco amigas com quatorze anos. Cinco adolescentes que
usavam batom preto na escola pra comemorar o halloween e preferiam AllStar a
Nike Shoks. Ganhamos alguns inimigos e nem ligamos. Sentávamos no mesmo banco de
madeira toda sexta-feira após a aula e jogávamos conversa fora, ríamos sem
parar e sonhávamos juntas. Uma historinha a la “Quatro amigas e um jeans
viajante”, sem calças mágicas, mas real.
Éramos as “Witch”, aquelas bruxinhas boas da revista mensal, lembra? Cada uma com uma inicial, sem brigas ou confusões. Guardávamos
os brindes a cada mês, e eu usei até quebrar aquele Coração de Kandrakar que,
para mim, era muito mais que uma bola de gude e acrílico, era parte da nossa
magia. Éramos perfeitas assim, e mantenho viva essa memória, apesar dos dez
anos que nos separam. Então alguém resolve, sem sequer pedir licença, se
intrometer nessa memória, e relembrar com tanta nostalgia uma história que foi
minha, minha e delas, e ainda dizer que nunca se esquecerá. Acho que, pela
primeira vez, eu realmente soube o que é sentir ciúmes. Senti meu coração
aberto com uma chave que era cópia, senti que roubavam de mim aquele presente
inestimável que quem me deu nunca mais dará outro. Senti uma pontada de raiva,
confesso.
Senti pena. Talvez aqueles anos
bons, aquela vidinha estranha que eu tanto estimo, tenham sido admirados por
alguém que nem sequer me disse “oi” alguma vez na vida. E me senti feliz, por
ter sido uma das protagonistas daquela amizade que começou no início dos anos
escolares e foi crescendo, ao pegar emprestado um corretivo e ao cruzar muitas
vezes nas oficinas de teatro.
Sinto ciúmes das minhas lembranças, porque me
dói tê-las deixado no passado. Sinto falta das minhas outras metades, outras
quatro metades, que me deram o privilégio de viver uma adolescência sem
traumas, onde os sonhos eram possíveis e a realidade podia ser vivida numa boa,
ao som de nossas vozes desafinadas cantando no recreio.