sábado, 31 de dezembro de 2011

Do limbo, das oportunidades e da virada...



O que trará o ano novo? Trezentas e sessenta e seis oportunidades...

Virada de ano me faz sentir como se eu estivesse no limbo, por assim dizer. Fico pensando, num flash, tudo que vivi no ano que passou, e ao mesmo tempo imagino e espero tudo que posso viver no ano que está vindo. É uma mistura de angústia e felicidade, da delícia de ser e ter sido.
Tento lembrar dos dias em ordem cronológica. Impossível. As emoções se misturam, as memórias se bagunçam de alguma forma, mas lá no fundo pisca como um farol aquele inigualável sentimento de que, de uma forma ou de outra, vale a pena.
O pessimista provavelmente vai lembrar das coisas ruins, o realista vai dizer que ficou meio a meio... eu estou pegando tudo de ruim e colocando num pote e, antes de fechar o pote, estou peneirando bem e tirando de cada coisa triste alguma coisa boa pra levar comigo nos próximos 366 dias e mais.
Gosto de pensar no que aprendi nesse belo 2011 que se vai, esvai... e foi tanto, nos desesperos, no choro que não foi pouco, nas TPMs, nas discussões, nas conversas, muitas conversas... sem esquecer dos momentos de felicidade imensa que tomaram conta de mim.
Estou agora no limbo. Olho para cima e vejo a luz do que ainda vai ser, olho para baixo e vejo essa massa sem forma do que foi. Um, eu sei como é, o outro, ainda não. Prefiro arriscar. Apesar de gostar do certo, tenho lá minha queda pelo duvidoso. Fico com a luz. E no meu caminho até ela, ao longo desse ano todo novinho pra mim, levo meus sonhos, porque nunca serei eu se não tiver sonhos, ah, meus tantos sonhos...
E penso em cada um que faz parte da minha vida. Penso nos tantos que não fazem idéia da importância que têm para mim. Penso nos textos ainda não escritos, nas personagens ainda não criadas, nas lágrimas ainda guardadas, nos sorrisos a serem mostrados. Penso em tudo que quero ser de melhor. Isso, focar no que há de ser melhor.
E saio de 2011, e saio do limbo, agradecendo a tudo e a todos, levando cada lembrança na minha enorme bagagem de quase 23 anos. E dou, aqui nos meus pensamentos, um beijo em cada bochecha de cada um que comigo continua.
Para 2012 espero dias melhores, com certeza. Mas espero mais ainda que nós saibamos lidar com as dificuldades e não esqueçamos de nos colocar no lugar do outro, porque isso sim faz toda a diferença. Sejamos gentis, principalmente com quem nós amamos. Amemos sem medo, vivamos sem limites dentro dos nossos direitos, brinquemos com o sol e com a chuva em cada um desses 366 lindos dias que estamos ganhando de presente. Caiemos com classe e levantemos com um sorrisão na cara. E sejamos humildes, acima de qualquer coisa. Já passou da hora de aprender que nos somos únicos, mas somos mais um nesse mundão. Chega de se sentir acima, chega de se achar por baixo. Vamos viver!
E que a palavra simplificar ganhe nosso carinho e que seja feita bom uso dela. Com certeza vai deixar tudo mais fácil. E mais do que tudo, que não deixe de ser dado o devido valor à EDUCAÇÃO, em todas as suas formas, porque é disso que o mundo mais precisa hoje.

Que fique aqui então o meu feliz ano passado e as minhas boas vindas ao ano novo.
Não jogue fora suas oportunidades. 366 parecem muitas, mas cada uma é única.

E paz e amor que, por mais clichês que sejam, nunca serão clichês!

Boa virada de ano! :D




P.S.: E muitas boas leituras! ;) - Nunca duvide do poder de um livro!!!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sobre Marias e retalhos - dos pedidos de Natal - 1995


No natal de 1995, as três Marias escreveram suas cartas para Papai Noel. Com a caligrafia de quem está começando a escrever, Ana Maria redigiu, como de costume, a maior das cartas, e pediu uma bicicleta nova. Maria Elis pediu um kit de costura para crianças, para que pudesse "trabalhar" com sua avó no ateliê. Já Mariana deixou seus desejos pessoais para depois, e pediu de todo coração que o pai de Lis voltasse para casa, pois queria ver a família da amiga feliz como antes.
Na manha do dia 25, a bicicleta de Ana a aguardava com um laço vermelho, debaixo da grande árvore. Lis acordou com uma caixinha de madeira recheada de retalhos, botões e linhas coloridas ao seu lado na cama, e Mariana correu para a casa da amiga, para ver quem mais estaria lá.
O pai de Lis não voltou naquele natal, nem em muitos outros. Foi então que Mariana, pela primeira vez, começou a questionar a existencia de Papai Noel...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Rezava todo dia pra Santo Antônio, não deixava em paz o santinho, mas não era pra arrumar marido, namorado, nem tico tico no fubá. Precisava mesmo era encontrar coisa perdida, que a cabeça de nuvem deixava tudo passar. O batom, o brinco de flor, o colar de conta colorida, o diário de histórias não vividas. Não tinha memória pra guardar tanta coisinha, quando na lembrança só cabia mesmo memória inventada, sonho de sonhar acordada.
Queria um cara assim como um Casanova, mas que fosse só dela. Alguém que não se cansasse de inventar a cada dia um novo pretexto pra conquistá-la, por que a cada dia era também uma mulher diferente. Queria ser única em toda sua diversidade, queria o amor de um só que valesse por mil. Queria só ele, ser só dele. Queria só amor, e não queria acreditar que isso era pedir demais.
Era menina-moça, devota de Santo Antônio. Não acreditava em príncipe, mas sonhava ser princesa. Gostava de vestido rodado, de renda e sianinha. Brincava de esconde de si mesma vez ou outra, até se render ao batom vermelho na frente do espelho. Olhava a janela com olhos perdidos. Horizonte e pôr-do-sol se misturavam na cabeça dela. Era ela e todo mundo ao mesmo tempo. Era essência e forma. Era coisa bonita de se ver.

sábado, 20 de agosto de 2011

Sobre páginas, palavras e memórias ao vento

Ela costumava se aninhar na imensa almofada do sofá azul da sala de estar, sempre com um livro nas mãos. Os olhos percorriam as páginas com fervor, mas sem urgências. Havia muito tempo para a vida a ser vivida.
Aos poucos a grande almofada deixou de ser tão grande, e os livros ilustrados ganharam mais páginas e menos gravuras. Ainda havia muito tempo, mas não mais o mesmo tempo.
A vida passou rápido como as páginas de um livro ao vento. Do início se foi ao meio num soprar, e do meio quase se chegou ao fim.
As histórias mudaram, tinham mais capítulos curtos, menos capítulos longos. Tudo se resolvia, tudo acontecia, tudo mudava de uma pagina a outra. E quando fechava o livro e olhava janela a fora os raios de fim de tarde que adentravam a sala, percebia que também era assim com a vida dela.
A amiga, que há pouco tinha pavor do primeiro beijo, casou-se há uma semana. O azul que pintava suas unhas era aquele mesmo do primeiro esmalte comprado. Da boneca tantas vezes costurada não lembrava mais o paradeiro. Os livros lidos se juntavam na estante cada vez mais rápido, assim como a carteira da biblioteca lotava com tantas datas. E, no intervalo entre a grande almofada do sofá azul e as leituras na cadeira dura do ônibus de todo dia, um espaço em branco marcava sua história.
Na tentativa de recuperar a história não lida, voltou página por página, procurando se lembrar onde parou. Não havia marcadores de página.
Percebeu então que queria novamente sentir a eternidade de um dia, sentir cada movimento do sol ao nascer até se por, parar tudo por um momento e se jogar mais uma vez no imenso conforto de um velho sofá, não mais com um livro ilustrado nas mãos, mas com um caderno em branco, e a chance de ser ela a autora da própria história.



Texto publicado no site Mundo Ela

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Do meme - Desafio de meninas

Regras:

1. Divulgar quem passou a tag

A Mariana Melo do blog Felizvros para Sempre. 

2-Postar 10 fotografias das coisas que você mais gosta (podem ser da internet).



Cores

Retalhos

Livros

Sofá Azul

Janelas

Escrever


Viajar estrada à fora em dias de sol
(e uma certa Kombi Amarela que nunca vai sair da memória...)

Amores que duram
Aqueles amigos pra sempre
Luz de fim de tarde me lembrando que um novo dia me espera ansioso.

É difícil escolher dez paixões quando se é tão apaixonada pela vida :)


3-Passar a tag a 10 meninas, e notificá-las.
Quebro essa regra e deixo para quem quiser brincar. E quem animar, me conta aqui pra eu ver também.
;)




sábado, 21 de maio de 2011

Da série "Por amor à Palavra": Parte II - Postado em 11/01/2011


Sobre um mundo encantado em um sofá azul

Desde pequena fazia do mesmo jeito, se não era a almofada gigante jogada no canto da sala, era em cima do sofá azul. Se jogava no macio, com um livro em uma mão, o urso de pelúcia preferido em outra, e o gato malhado vindo atrás.
Passava pelo menos duas horas de sua tarde encostada em um de seus lugares preferidos, descobrindo cada nova história que sua mãe trazia para ela sempre que podia.
Deu várias voltas ao mundo em menos de oitenta dias, descobriu países maravilhosos, se olhou através de espelhos mágicos, e deparou com tantas espécies de animais falantes – alguns usavam até roupas.
Da cozinha ou do quarto, a mãe escutava as gargalhadas que vinham da sala, e acabava rindo sozinha também. Nas tardes de sábado o pai preferia deixar o jornal de lado, para observar as feições de felicidade da pequena criatura que, vez ou outra, parava a leitura para contar alguma parte da história para o felino sonolento que se mantinha ao seu lado.
Os dedos passavam as páginas avidamente. Na cabeça idéias borbulhavam, sonhos aconteciam e verdades se formavam.
Agora não tinha mais tantas tardes para gastar visitando novos mundos. Quem mais a observava era o relógio, que, com seu insistente tique-taque, tomava lugar ao lado de um velho urso de pelúcia na prateleira empoerada do quarto. No apartamento que dividia com a amiga, várias fotos do gato de duas cores que costumava percorrer distâncias ao lado da dona – ás vezes tinha a certeza de que era um cão disfarçado, só podia!
E, ali no cantinho do quarto, um Sofá Azul mantinha seu posto, guardando as histórias que foram vividas, as marcas do pequeno corpo de menina que tanto acomodou, e, em meio a bolsas, livros e roupas emboladas, memórias que não deveriam ser esquecidas.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Da série "Por amor à Palavra": Parte I - Postado em 10/01/2011


Dos Inícios

Segunda feira, o dia do desânimo, do “ah nem, mais uma semana…”, do “hoje eu começo!”. E por ser dia de desânimo acaba sendo também o dia do “eu deveria ter começado”…
Hoje eu comecei. Sem querer, comecei uma das minhas resoluções de toda virada de ano – aquela que eu nunca consegui passar pelo primeiro dia-, fazer exercícios físicos.
Estava em casa, sete da noite, deitada de pernas cruzadas, olhando de lado minha tatuagem recém feita, assistindo – mais uma vez – a terceira temporada de Bones, mordendo um delicioso Ferrero Rocher, quando meu telefone tocou, piscando o nome do meu melhor amigo. Atendi e logo ouvi um “Vamos caminhar? =D”.
Pensei por um momento – com aquele usual desânimo -, olhei o Ferrero Rocher – o creme de avelã suculento chamando por mim-, olhei a gordorinha abdominal extra, e não pensei de novo. “Vambora!”, fui respondendo.
Corre procurando a legging, corre procurando o tênis, corre procurando a camiseta que usou uma semana na academia – porque não voltou mais, mesmo trabalhando nela; olha no espelho cheia de orgulho, dá aquela alongada se achando super capaz, pega a garrafa d’água e sai portão afora, andando com cara de atleta.
Não foi tanto assim, mas foram divertidos quarenta minutos que esperam ser gastos todos os dias por um bom tempo. Foi um início em uma segunda feira que não me deixou esquecer que não eram só as pernas que deveriam se exercitar no começo dessa nova semana.
Daí os dedos formigaram, contando assim pro resto do corpo, até a cabeça entender… era hora de escrever.
Boas segundas para vocês!


Shantal-lis

terça-feira, 10 de maio de 2011

Dos fins, dos meios, e da fé ao final das contas

Com a mão direita, pousou o santinho sobre o caminho de tricô que ornava a mesa da cozinha. De mãos livres, revirou duas ou três gavetas do armário próximo à entrada, conferiu o que estava escondido atrás das portinholas sobre a pia para, enfim, dentro do pote de porcelana sobre a geladeira azul clara, encontrar o rolo de barbante que costumava guardar para tal ocasião.
Usou a fita métrica para medir os usuais quarenta e cinco centímetros e cortou o barbante com a tesoura de costura. Sentou-se na cadeira mais próxima ao santo, de cabeça baixa, concentrando-se nos desejos ansiados, enquando dava com cautela três nós em uma das pontas do cordel.
Por um momento seus olhos cruzaram com os pequenos olhos pintados do Santinho que carregava o menino no colo. Sentiu pena.
Aprendera a simpatia quando criança, observando de perto as tradições ensinadas pela avó, nunca duvidando do resultado. Mas ao olhar fundo nos olhos do santo de gesso, por um momento repensou o que estava prestes a fazer.
Seu Santinho nunca havia falhado antes. Seria pela coação ao ser deixado de ponta a cabeça toda vez, ou seria porque, apesar de estar de cabeça para baixo, considerava mais o coração da menina que tinha um desejo do que os fins que usava para justificar os meios?
Resolveu dar ao santo o benefício da dúvida.
Enrolou com jeito os quarenta e cinco centímetros do barbante com três nós na ponta, e guardou-o novamente no pote de porelana. Com a mão direita, levantou o santo, tirando-o do desconforto e da tensão do tricô sobre a mesa, devolvendo-o ao seu lugar cativo no pequeno altar da sala.
Fez um sinal da cruz, por via das dúvidas, e saiu faceira porta a fora, arrastando a longa saia rodada pelo chão, de consciência limpa pela boa ação realizada, e com a fé inabalada batendo no peito.
Porque tudo daria certo, como sempre dera.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sobre a Morte



Era só mais um dia usual, um dia de semana, um dia como outro dia qualquer. Estava frio e os cabelos dela acompanhavam a dança do vento, vez ou outra precisava levar a mão ao rosto e desviar os fios que insistiam em tampar sua visão. Olhou o relógio no pulso esquerdo. Quase cinco e meia. Virou a próxima esquina, em sentido ao ponto de ônibus. Então se deparou com alguém de que sempre ouvira falar, mas nunca havia encontrado assim, pessoalmente. Foi no meio daquela tarde usual de um dia de semana qualquer que ela conheceu pela primeira vez a Morte.
Sempre pensou em como seria a Morte. Quando pequena, não podia entender. Quando começou a entender, sentiu medo. Com o tempo percebeu que seu medo era do vazio, o vazio que a Morte trazia. Imaginava a morte translúcida, e sentia frio. A morte era o vento daquela tarde. A Morte a encarava com dois belos olhos azuis sem brilho, olhos com o azul de um céu nublado, olhos com o ar de um domingo à tarde, daqueles domingos em que nada se há de fazer. A Morte tinha cabelos louros e lisos, com uma leve franja que cobria a testa sem cor. A Morte tinha lábios finos que pareciam um dia ter sido rosados. A Morte usava calça jeans e paletó, tênis novos e camisa azul, pouco mais sem brilho que os olhos. A morte tinha as unhas cortadas, e um calo no dedo médio da mão esquerda. Talvez a Morte fosse canhota.
A Morte guardava memórias por trás dos jeans e dos azuis. Memórias que ela desejou entender e conhecer, ao encontrar a Morte. Nela, um nó na garganta a fazia sentir viva. Nele, um nó no pescoço já não lhe permitia mais a vida.
Deixou que o vento desalinhasse seus cabelos, tampando seus olhos. Olhou o relógio no pulso esquerdo. Olhou a Morte mais uma vez. Sentiu pena. Sentiu frio. Sentiu a dor e a alegria do pulso que batia em compasso.
Agora não era só mais ela. Em volta outras pessoas, outras vidas, observavam de perto a Morte, com receio de dizer “oi”.
Seguiu seu caminho usual, naquela tarde qualquer de um dia de semana. A Morte não era tão assustadora, afinal. A Morte era sim vazia, mas, mais que vazia, a Morte era triste. Tristeza que só as memórias da Morte podiam explicar. Mas as memórias morreram com a Morte.

quarta-feira, 23 de março de 2011



Pela fresta da cortina, os primeiros raios de sol do sábado entravam no quarto. Rostos amassados, cabelos embolados, olhos apertados. Na face, sorriso estampado; nas mãos, outras mãos; no abraço aconchegante, um “bom dia” deliciosamente feliz; na cabeça, lembranças boas dividindo espaço com mil sonhos e planos; no coração, sentimento, muito sentimento, exalando por cada canto do quarto em forma de cores, cheiros e sensações inexplicáveis. Cócegas; gargalhadas; guerras de travesseiro; beijos; olhares; mais sorrisos… e o dia seguiu assim, regado a “te amo’s” e “também’s”.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Ao Verão, com saudades

Querido Verão,

Em quatro dias você se vai e meu coração já sente a falta do calor que só você sabe como fazer.

Não quero pensar que terei, mais uma vez, que esperar quase um ano até o seu retorno. Gosto das outras estações, me encanto com as folhas caídas do Outono, o sopro frio do Inverno, danço com as cores da Primavera, mas é quando você está que tudo acontece.

É sob o seu calor que a vida ganha mais vivacidade, quando os sinos das escolas tocam uma última vez no ano dizendo escandalosos “boas férias!”, os pais deixam as crianças se lambuzarem com mais e mais sorvetes, e os casais apaixonados se rendem ao calor e deixam a paixão florescer. E as cores trazidas pela Primavera ganham um novo tom, aquele em que só o seu nascer e pôr do sol sabem colorir. E por falar em pôr do sol… nada mais bonito que um pôr do Sol num dia de Verão, depois de se lavar a alma em águas que venham de cachoeiras, piscinas ou do velho é bom banho de mangueira.

Você faz tudo virar novidade. Os mesmos lugares se transformam em lugares novos pelo simples fato de ser Verão. E as viagens de carro por longas estradas ao som de músicas que pedem janelas abertas e brisa no rosto se tornam histórias a ser contadas em futuras estações.

Ninguém diz “foi no outono que aconteceu”, mas todo mundo se lembra que foi “naquele verão!”.Todo ano você volta trazendo vontades e expectativas e se vai, deixando saudades e memórias.

A falta que sentirei de você ficará guardada aqui, dentro de mim, todos os dias até seu retorno. E quando você chegar, prometo comemorar sua volta mais uma vez, uma comemoração digna de uma estação dourada! E as lembranças que você deixou, escreverei e as tornarei eternas, para que quem não tiver a mesma sorte que eu tive, e vier pela primeira vez ao mundo antes de você estar, saiba logo de início as grandes aventuras que os esperam.

Faça uma boa viagem, mas mande notícias pelo caminho. ode ser um dia quente no meio do Inverno, ou um raio a mais de Sol num dia nublado de Outono. De alguma forma, saberei que foi você dizendo de longe “logo logo estarei de volta”.

Leve com você meu carinho soprado ao quatro ventos e não se esqueça que nossa amizade vai além dos meses que nos separam.

Um abraço,

Eu.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

À Ellie

Querida Ellie,



Que surpresa a minha quando desci do táxi e pisei naquele chão com cheiro de terra molhada. Era meio da tarde e a chuva de verão acabara de cair, dando lugar a um sol radiante que se espreguiçava raio a raio, até cobrir todo o lugar. As nuvens tímidas deram lugar ao azul que inundou a paisagem. Fiquei alguns minutos entorpecida em frente ao imóvel. São dois andares pintados de branco, como aqueles dos seus recortes de revista, a varanda cobre os quatro cantos da casa, e uma rede azul anil dorme silenciosa ao lado da porta principal. As janelas são grandes e você poderá empurrá-las com as duas mãos toda manhã, para ver o sol nascer.

Andei em passos trôpegos, subi com um cuidado especial os dois degraus que dão na varanda e estiquei meu braço devagar, abrindo com cuidado a porta, como se evitasse ter a presença percebida, como se o lugar fosse imaculado a ponto de eu não merecer estar ali. A casa toda em madeira me deu um aconchegante sinal de boas vindas. Abri as janelas a fim de deixar o sol chegar, e a brisa de verão se sentiu a vontade para entrar, ocupando cada canto, como se a casa fosse dela. A cozinha se parece com aquelas das casas de vovós que vimos tantas vezes em filmes na tevê. A mesa no centro, com o vaso coberto de flores do campo deu vida ao resto do ambiente. Na sala, um sofá azul faz as vezes, e foi impossível não querer pular nele quando o vi. Experimentei suas almofadas por um momento e observei o teto. Pequenas estrelas, delicadamente pintadas, tomaram minha atenção por um bom tempo.

Subi as escadas devagar, acariciando o corrimão como para guardar a sensação. Os quartos são grandes como salões de festa, os armários embutidos têm espaço para guardar até nossa mobília. As janelas são, na verdade, duas grandes portas que abrem espaço a pequenas varandas, com cadeiras de balanço e almofadas bordadas. Me encontro sentada em uma delas nese momento.

Daqui de cima tenho a visão do pequeno pomar que fica no quintal, meus pés descalços coçam de vontade de tocar novamente a terra. Temos maçãs, laranjas, limões e amoras. Pela manhã os bem-te-vis cantam chamando uns aos outros para comemorar mais um dia que se inicia. As flores no jardim da frente passam a sensação de eterno arco-íris e, sempre às duas da tarde, Bóris, o preguiçoso beagle do vizinho, caminha vagarosamente para se deitar em meio às cores. Observo-o com graça. Chegou aqui antes de mim e também me deu calorosas boas vindas, com beijos regados a baba, como um bom beijo canino deve ser.

O sol começa a se pôr no horizonte, espreguiçando-se mais uma vez, mas recolhendo seus infinitos raios, dizendo “nos encontramos amanhã”.

Logo a noite chegará, e as estrelas de verdade tomarão lugar junto a lua no céu negro. Nesse momento também escurece meu peito e a saudade dói. Mal posso esperar o dia de sua chegada, para pisarmos juntas, descalças, nesse solo mágico, cheio de cores, cheiros e sensações.

Um beijo tão caloroso como o do Bóris.

Te espero.



Mamãe