segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Rezava todo dia pra Santo Antônio, não deixava em paz o santinho, mas não era pra arrumar marido, namorado, nem tico tico no fubá. Precisava mesmo era encontrar coisa perdida, que a cabeça de nuvem deixava tudo passar. O batom, o brinco de flor, o colar de conta colorida, o diário de histórias não vividas. Não tinha memória pra guardar tanta coisinha, quando na lembrança só cabia mesmo memória inventada, sonho de sonhar acordada.
Queria um cara assim como um Casanova, mas que fosse só dela. Alguém que não se cansasse de inventar a cada dia um novo pretexto pra conquistá-la, por que a cada dia era também uma mulher diferente. Queria ser única em toda sua diversidade, queria o amor de um só que valesse por mil. Queria só ele, ser só dele. Queria só amor, e não queria acreditar que isso era pedir demais.
Era menina-moça, devota de Santo Antônio. Não acreditava em príncipe, mas sonhava ser princesa. Gostava de vestido rodado, de renda e sianinha. Brincava de esconde de si mesma vez ou outra, até se render ao batom vermelho na frente do espelho. Olhava a janela com olhos perdidos. Horizonte e pôr-do-sol se misturavam na cabeça dela. Era ela e todo mundo ao mesmo tempo. Era essência e forma. Era coisa bonita de se ver.