sexta-feira, 17 de junho de 2016

Dos Escritos - ...

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Tantos anos depois e a feição era a mesma. Como num sopro de um vento leve voltei dez anos na minha vida, no dia em que a vi pela última vez.
Os olhos verdes continuam penetrantes, os cabelos, agora acobreados, exibem os cachos que por tanto tempo ela tentou esconder.
Os lábios ainda contornam o sorriso que nunca saiu da minha memória.
Se ao menos eu tivesse algum tipo de coragem. Era a última coisa que eu tinha naquele momento.
O frio na barriga se repetiu dez anos depois. Será que se sentiam assim todos os que cruzavam o caminho dela?
Jamais lembraria de mim. Não quis pagar pra ver.
Do canto da minha mesa, próxima à janela do bar, meti a cara na cartela de bebidas - nunca bebi na vida - e me escondi quando passou ao meu lado.
Tentei não fazer, mas a segui com os olhos, os mesmo olhos que em algum dia da minha vida se encantaram pelo jeito dela.
De alguns amores não há muito o que saber, só imaginar. A lembrança que insiste em manter viva a chama do que não aconteceu e a vida que prega peças assim, sem pudores, no anoitecer de uma quarta-feira em que tudo que eu queria era acreditar que não há mais como me surpreender.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Dos Escritos - Santiago (Parte II): para aquela que, de longe, (não) me ouve

Para ler ouvindo



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Se você pudesse ao menos me ouvir, ler as palavras que escrevo, seria tudo tão menos complicado. Eu sempre tive a certeza de que nada seria difícil pra mim, porque eu sempre te teria ao meu lado e você sempre soube tanto de tudo. Você certamente saberia o que me falar agora.
Queria que você o tivesse conhecido para pelo menos me dizer para correr com todo o meu fôlego sem olhar pra trás e fugir enquanto havia tempo. Mas não foi assim.
Somos diferentes como o sol que nasce e o sol que se põe. Ele anseia pelas aventuras do dia como eu anseio pela profundidade da luz da lua.  Ele mergulha nas ondas das suas tantas vontades, enquanto eu me rego em minhas raízes, firmada em minhas certezas.
Ele ama com adrenalina, enquanto o que eu mais preciso é de permanência.
E ainda sim eu me joguei. Como pular de uma ponte sem saber a altura, sem saber se haveria água embaixo, para que eu pudesse voltar à superfície, ainda que fosse profundo o mergulho. Entrei num carro a duzentos e tantos por hora sem saber se conseguiria fazer a curva. 
E então ele voou. Com sua inconstância ele nadou para outros mares, sem nota de adeus. Ao menos você me deixou um tipo de despedida ao qual me apegar. 
O coração ainda pulsa e a mão ainda treme pelas expectativas que eu criei, mesmo sabendo que não havia espaço para nenhuma delas nessa aventura.
Minhas folhas sacodem com a brisa que bate no meu rosto e me sento aqui, a olhar o sol se pôr mais uma vez, entre os tons de alaranjado mais bonitos com os quais minha pele já se coloriu. E espero, sem muita esperança mais, um retorno, um sinal.
A lua que esboça um sorriso crescente no céu ainda claro aguarda sua hora de brilhar, assim como eu aguardo, no fim das contas, uma resposta sua. Porque nenhuma entrega e nenhuma aventura chegam perto da agonia de não ter mais você.
Te amo com a mesma intensidade que te odeio. Pelo nada e pelo tudo.
Pra sempre (sua). 

Ellie