quinta-feira, 20 de novembro de 2008


Não se sabe se a redoma foi quebrada antes da hora ou se chegou o momento de cair a última pétala, só se sabe que com ela cairam sonhos e a certeza do amor eterno, do conto-de-fadas real, do beijo miraculoso.
Nasceu a angústia, a dor intensa que remédio algum aplicado na veia poderia curar.
Lágrimas e noites insônes servem de plano de fundo dessa cena da cruel vida real.
Para os fracos, o fim. Para ela, a hora de tirar os sapatinhos de cristal e pisar no chão, a caminho da escada que a levará ao fundo do poço, mas que continuará lá para quando voltar. Porque ela voltará, e calçará então as sandálias - nem de plebe nem de realeza - de gente normal, e depois de tomar toda a chuva e atravessar a ventania, escalará o arco-íris e, lá de cima, olhará o mundo sob o pôr-do -sol.
Como é bom olhar o pôr-do-sol.



PS: O que nos faz melhor ou pior não são os acertos e os tropeços em si, mas a forma como encaramos cada um deles.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Dos Escritos - Parte II


Então, depois de muito tempo ela sentou no velho e empoeirado sofá azul. Abriu mais uma vez o pequeno caderno de capa bordada há muito guardado na caixa de madeira roída, protegido por um cadeado de cor bronze-enferrujado. Sacudiu a caneta nanquim a fim de sentir o fluido da tinta que pensou estar seca. E escreveu.
Escreveu diferente, porque era agora uma garota diferente. Era agora mulher.
Leu o bilhete escrito na primeira página. Lembrou-se com carinho dos tempos atrás, mas screveu com seu novo coração; lembrou-se com carinho da irmã que fugira, tentando imaginar seus traços modificados pelos anos. Sentiu saudades. Pensava sua vida com maturidade, sem deixar por completo quem sempre fora. E escreveu.
A ponta da caneta deslizava pelas páginas amareladas numa sintonia perefita e, como mágica, histórias tomavam forma. Duas lágrimas brincavam em seu rosto até seguirem cada uma seu rumo (como ela mesma o faria). Uma pingou no papel, borrando de leve a tinta preta de uma palavra; enquanto a outra contornava o sorriso de acabara de se formar.
Não havia ainda parado de escrever quando, sem entender ao certo, o coração palpitou forte e o inesquecível cheiro do incenso de lotus tomou toda a sala. Sentiu-se tentada a olhar pela janela, mas algo a impediu de fazê-lo. Numa fração de segundo viajou no mais íntimo de sua memória e acordou pensando estar sonhando, mas a campainha havia realmente tocado.