quinta-feira, 9 de julho de 2009


Quando o sol se pôs dentro dela, o sol se pôs também la fora. Da janela do sexto andar ela olhava sem atenção os carros eufóricos na avenida por causa do transito das seis da tarde. O vidro fechado da janela foi tocado pelas gotas da chuva que começava a cair, e pelas gostas da pequena chuva que caia dos seus olhos. O por do sol dentro do coração trouxe também nuvens tristes e carregadas. No radio o cd tocava repetidas vezes os mesmos versos que circulavam e circulavam na cabeça dela. “Are you blind?”. Era difícil aceitar que amar podia doer tanto, sendo que, até então, só a tinha feito descobrir coisas tão maravilhosas. “Can’t you see me standing here, waiting in the light for you?”. O som das buzinas dos carros e ônibus lá em baixo misturava-se com os fantasmas das memórias. Ela não podia entender porque não conseguia sorrir. Por que o único sentimento que fazia parte dela era aquela dor tão intensa e profunda, tão intensa e profunda como tinha sido a felicidade dela, deles, até dois dias antes. Não parecia justo. Talvez não fosse mesmo.
Ali, naquele fim de tarde, ela não tinha nada além da chuva na janela, as lagrimas nos olhos, as nuvens escuras de fora e de dentro, os versos repetidos do Pat Monahan e a companhia dela mesma. Mais nada.
Só a espera...

segunda-feira, 11 de maio de 2009


Todos têm uma paixão, uma menina dos olhos que os faz verem o mundo de um jeito único. Alguns sentem a inspiração e escrevem; outros ouvem a música no mundo e tocam; há os que passam anos em busca da imagem perfeita, da cena perfeita. E há também ela, que vive pela dança.

Para ela a dança não é corpo, arte ou movimento. Não Só. Ela consegue encontrar na dança a razão para abrir os olhos todas as manhãs e sorrir para o sol.

Quando, por algum tipo de magia que não se pode explicar, calçou suas primeiras sapatilhas, descobriu que não era somente um par de sapatilhas cor de rosa, mas pincéis mágicos que percorriam a tinta da aquarela da dança e, em cada giro, cada passo, cada salto, enchiam de cores a tela branca da vida da criança que começava a descobrir o mundo.

E dessa brincadeira de cores e telas surgiu uma coisa chamada sonho. O sonho de ser o melhor que pudesse. O sonho de não mais descalçar a magia que existia em seus pés. O sonho de voar por esse infinito. E o passar do tempo fez com que a menina trocasse algumas vezes suas sapatilhas, só as sapatilhas. Porque o êxtase de dançar, de pintar seu mundo de colorir sua história vinha dos pés, vinha do coração.

E a menina em sua “amadurescência” percebeu que os palcos lhe permitiam ser quem quisesse, lhe permitam ser ela mesma, lhe permitiam voar pelos quatro cantos de sua imaginação, pelos quatro cantos de onde tivesse vontade. Ela descobriu que é possível voar com os pés no chão.

Não era mais uma questão de dançar a vida, como se ouve por aí, mas de dançar para viver. Porque a dança é parte dela, é o órgão vital que bombeia paixão pelo seu corpo, a paixão que vem transformando-a de menina em mulher. A bailarina.

quarta-feira, 15 de abril de 2009


Eu, que tanto falo e escrevo sobre o amor – sobre todas as formas de manifestação do amor –, eu que – talvez mais que qualquer ser – tanto acredito no que alguns chamam “a maior das sensações humanas” fui convidada pelos acontecimentos “rotineiros” publicados nos nossos jornais a parar e pensar sobre esse sentimento. E mesmo depois de tanto observar, refletir e procurar, só consigo chegar a uma inconclusão que me leva a perguntar ao mundo – não pude sozinha responder essa pergunta, não dessa vez –: onde está o amor?

Ontem, uma jovem de dezenove anos foi morta e teve suas mãos decepadas; hoje é a moça de vinte anos que teve o corpo esquartejado; a alguns dias atrás foram os tantos ex-namorados possuídos por uma obsessão tamanha suficiente para acreditar que se não fossem eles, não seria mais ninguém, literalmente. E mais corpos frios nas esquinas, mais manchas de sangue pelas ruas, mais famílias corrompidas.

Eu costumava dizer que devíamos ser como as crianças, com a mesma ingenuidade, o mesmo coração puro e a mesma esperança, mas me decepciono ao ler no noticiário o caso do menino de onze anos de idade que, em troca de mil reais, aceitou a proposta de matar um homem. Sem contar com as inúmeras notas sobre os pais-padrastos-desconhecidos que foram presos por abusar a anos de meninas e meninos que mal tem idade para descobrir o que é o mundo além dos seus brinquedos.

Parece mentira, mas não é. É uma verdade feia, fria e cruel, estampada nas capas de todos os jornais a cada manhã. Uma verdade feia, fria e cruel que parece não chocar. Porque cada vez mais vejo pessoas comentarem os fatos como banalidades quaisquer. As pessoas perderam a capacidade de se espantar, adotaram a visão da normalidade, fizeram da exceção a regra.

Temos sido todos cúmplices desse desamor em cadeia. Temos sido espectadores desse interminável velório de cadáveres e de almas. Cadáveres dos que foram mortos, almas dos que mataram.

E o amor tem sido mais difícil de ser encontrado, o amor tem morrido em cada indiferença, e tem levado com ele a esperança que para muitos era a única coisa que restava de bom.

Por isso, eu, em minha humilde posição de devota fiel desse grande sentimento, peço: preserve o amor que existe em você, porque ele existe. Não deixe que o mal da “normose” corrompa o que a de bom aí dentro, que te impeça de se chocar. Não se permita perder o espanto e, se não for pedir muito, perceba o amor. Perceba o amor que te rodeia, foque seus olhos nos lugares mais simples e encontre-o: num gesto, num sorriso, num ato de gratidão, num ato de gentileza, num ato de perdão. Perceba o amor para acreditar no amor. Acredite no amor para multiplicar o amor. Sorria para alguém que passou por você, agradeça, seja gentil, perdoe, exerça sua paciência e sua tolerância, acene para aquela criança que está feliz por estar sentada na cadeira mais alta do ônibus, escute as histórias de um idoso. Descubra-se também como manifestação da luz que o amor trás.

Se você não pode mudar o mundo todo, mude o seu mundo.

Quando cada um se esforçar de forma a mudar a sua realidade, a diferença estará sendo feita e o mundo se tornando um lugar melhor.

Pense um pouco.


Com amor,

Shantal-lis Stoppa