De mim

Estudante de Letras, leitora voraz, escritora por paixão – mais que por vocação (talvez da paixão venha a vocação… Ou a vocação traga a paixão…). Gosto de inventar memórias, porque acredito que a lembrança é um direito e boa memória, privilégio. Tenho com as palavras uma amizade de infância, um amor recíproco, incondicional, uma mão lavando a outra –eu as liberto e elas dizem o que eu preciso/quero dizer. Tenho nome de mil significados, mas que não serve para título de canção. Tenho cara e tenho coração – às vezes, só coração-, olhos grandes para enxergar por dentro, veias largas para passar tudo que sinto. Filha da mãe com todo orgulho da mãe –porque ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Sou muitas, quando escrevo; sou nada quando entristeço; sou a melhor quando me alegro; sou eu todo dia. Levo em mim uma lua em cores, um príncipe de cabelos louros e belos olhos, e uma rosa com seus espinhos. Por dentro sou feita de estrelas; nos pés, calço nuvens; a brancura da pele esconde as sete cores do meu arco-íris; os óculos, uso para impedir que os olhos absorvam o sol todo para mim –todo mundo tem lá sua ambição. Para mim, toda vida é um livro; toda esquina, um título; toda pessoa, um poema. Gosto mesmo de embaralhar histórias pra fazer uma nova, reparar nos detalhes ignorados, criar cenários para imagens sem movimento. Não quero ser a que fica atrás das câmeras, prefiro ser a lente; não sonho em ser aparência, prefiro ser alma. Sou quebra cabeça de última peça escondida, sou texto sem conclusão, livro com continuação, sou colcha de retalhos esperando por mais um, sou, como já diz meu nome de mil significados, canção, paz, fonte de inspiração de um poema, que gosta também, vez ou outra, de ser uma menina com uma flor.


Shantal, anos atrás, por um velho amigo...