segunda-feira, 30 de julho de 2007

A menina que colecionava abraços

Quase todo mundo tem uma coleção. Tem gente que coleciona bonecas, tem gente que coleciona latinhas, tem os que colecionam selos, alguns colecionam cartões, outros, carrinhos; tem até quem colecione botões (de todos os tamanhos, cores e modelinhos diferentes). Ela também tinha a sua coleção: colecionava abraços!
Desde bem pequenininha, sempre fora uma menina muito carinhosa e serelepe, que adorava dar abraços. Mal podia ver a mãe distraída pendurando roupas no varal e ia ela correndo agarrando suas pernas num abraço apertado; o pai chegava do trabalho e já estava ela esperando na porta para dar um pulo em seu colo e outro abraço. Adorava fazer um paparico nas irmãs mais velhas. Mas, o que ela mais gostava de todas as tantas coisas que ela adorava, eram os almoços de domingo na casa dos avós: lá tinha tios, tias, primos pequenos, primos grandes, madrinhas e padrinhos (os dela e os dos outros), sem esquecer a Bituca, a cachorrinha vira-lata que morava no quintal de terra. Era o paraíso! Abraçava todo mundo uma, duas, três, quatro vezes pelo menos.Era como se cada abraço renovasse as coisas boas e coloridas que brincavam dentro dela.
Um dia, ganhou do pai uma máquina fotográfica. Não achou graça, mas começou a levá-la em todos os almoços da vovó. Curiosa para saber como ficariam, esperou o dia em que o pai mandara o filme para revelar.
Até então, nada demais: fotos da vovó cozinhando e o tio pegando batatinhas escondido, as irmãs mais velhas trocando olhares com os primos bonitos, a Bituca enterrando um ossinho... mas, assim como num estalo, seus olhinhos infantis brilharam. Brilharam tanto que pareciam soltar faiscas. E um sorriso largo e feliz brotou daquela boca tão pequenininha.
Ali, no fundinho daquela foto, atrás das tias fofoqueiras, um detalhe quse imperceptível: o vovô e a vovó, bem pequenininhos, num abraço deseperadamente gostoso! E ela entendeu que não poderia ter ganho melhor presente em toda sua vida! Levava agora sua máquina fotográfica para cima e para baixo, em todos os lugares que ia. Fotografava discretamente cada abracinho que encontrava, fosse em casa, no quintal dos vizinhos, na escola, nas missas semanais, as pessoas nas ruas. E assim foi, ano após ano.
Quando cresceu, trocou sua câmera por uma mais atual e resolveu começar um curso de fotografia na cidade grande em que agora vivia. Os almoços de domingo da vovó eram agora passeios solitários no parque, observando os velhinhos jogando pipoca aos pombos e as crianças andando de bicicleta.
Nem por isso se sentia solitária, porque - diferente de qualquer um - ela tinha em casa, em cada parede, o maior acervo de carinho que alguém poderia ter no mundo inteiro.


P.s.: Um abraço gostoso tem efeito de um furacão no organismo: eleva o nível do hormônio ocitocina - que influencia comportamentos e emoções -, reduz a pressão sanguínea e ainda diminui os niveis de cortisol - o hormônio do estresse.
Além da sensação de conforto e bem-estar, o abraço ainda diminui o risco de problemas do coração, já que ajuda a controlar a pressão do sangue.
As mulheres são as mais beneficiadas, nelas a variação hormonal durante um abraço é bem maior.

(texto do p.s.: campanha "Abrace o Mundo", feita para minha aula de Lógica e Argumentação, em 2005 - a fonte foi uma revista Capricho que eu tinha xD)

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