domingo, 20 de maio de 2012

Dos escritos - Santiago


Seu nome é Santiago, pelo menos foi o que me disse. Não me preocupei em perguntar sobrenome ou qualquer informação de sua origem. Não era importante saber, seus olhos já me tomavam toda a atenção.
Apareceu na minha vida sem mandar nota de aviso. Chegou assim, como quem vem com o vento. Como se fosse o próprio vento. Não fazia do tipo brisa de tarde de primavera, era vento que precede tempestade, daqueles que ajudam a lavar a alma, ou a bagunçá-la ainda mais.
Ele se acomodou ao meu lado enquanto eu sentava debaixo de uma espatódea que soltava suas flores escorregadias e alaranjadas ao chão. Eu tinha no colo o caderno que Hanna me deixou e um lápis – não tinha ali paciência para escrever de caneta, era definitivo demais. Senti eriçarem-se os pelos aloirados do meu braço direito, senti um arrepio por todo o corpo. Percebi aquela presença inesperada, mas não me assustei. Deve ter sido um de seus truques.
Da mesma forma que veio, foi. Sem dar sinal de nada. Mas como vento que venta e faz tudo em volta desabar, sua marca ficou em mim. Sua voz mansa, suas histórias engraçadas e malucas, sua mania de falar em segunda pessoa e usar palavras antigas, seu jeito de me enlaçar numa conversa e fazer o tempo parar. Eu sabia que tudo aquilo era demais pra mim, que meu estado emocional não suportaria um rojão assim, mas deixei pra lá. Deixei pra lá, mesmo sabendo que os sorrisos e gargalhadas se transformariam num grande poço dentro de mim ao final das contas. Porque ele é assim, carrega consigo sua inconseqüência e suas vontades realizadas.
Eu cedi um pouco, eu sei. Falei de medos, de lembranças, de esperanças. Falei um pouco demais. E apesar do abalo sísmico causado no meu espírito, do coração gritar de desejos e anseios, tranquei essa loucura em algum lugar e de alguma forma disse um suado e difícil “não”. “Não desse jeito”.  Eu não era tão livre assim afinal. Enquanto eu me torturava por dentro, ele percebeu que não podia mais permanecer. E suas palavras foram ficando distantes, mesmo que eu as puxasse para mim. Ele foi como vento que precede tempestade. Vem intenso, mexe com a alma da gente e venta pra outro lugar.
Santiago agora venta em algum lugar que eu não conheço, e o que eu posso fazer é esperar, pois sei – pois espero - que ventos hora ou outra voltam. Tento manter quieto dentro de mim esse sentimento estranho que me cututca com pontadas que causam dor. Entendi enfim o que meu coração o tempo todo tentou me dizer: pior saudade é a do que não aconteceu.

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