Foi tão intenso quanto qualquer
sonho que já pude ter. Você estava lá, me olhando te olhar. Mergulhando as
pernas na água, sentado na beirada da piscina, apoiado nas duas mãos que
repousavam numa linha pouco atrás das costas, sorrindo pra mim, com aquela inconsequente
mecha do seu cabelo macio e cacheado caindo sem pudores sobre seu olho
esquerdo. E você me olhava assim, com cara de quem sabia que eu não poderia
resistir a este detalhe.
Eu te olhada por detrás da sacada
da janela, sentindo a cortina roçar de leve na minha pele, movimentada pelo
toque do vento. Fazia sol e eu podia jurar que todo ele brilhava ao reflexo do
seu sorriso. Sorri de volta, tendo uma parte de mim inconformada por ceder à
conquista, mesmo que um pouco apenas.
Olhava para a água e para as
ondas que seus pés causavam nela. Lembrava dos seus pés entrelaçados nos meus e
as ondas de sentimento que isso causava em mim. E seus longos dedos acariciando
meu ombro enquanto meu indicador brincava com esse mesmo pedaço rebelde de
cabelo, deixando-o cair mais uma vez sobre seu rosto, enrolando-o e desenrolando-o
outra e outra vez, feito nossa história.
Pensei em todas as vezes que a
luz do sol entrava sorrateiramente pelas gretas na janela, em todas as nossas
manhãs de domingo, incomodando suas pálpebras e me fazendo rir enquanto você
reclamava de novo e de novo. E pensei no
vento, esse que roçou a cortina em mim e que, como num passe de mágica ou no espaço
de tempo de uma piscada, te levou para outros mares, deixando suas cores.
Olhei da sacada da janela seu
sorriso que ofuscava o sol. Acordei com a luz entrando pela janela. Era manhã
de domingo, mas éramos, então, só eu, a saudade e a cortina que não sabia mais
em quem tocar.