quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Oblivion (ou a tentativa ainda frustrada de tirar você da minha vida)

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Foi tão intenso quanto qualquer sonho que já pude ter. Você estava lá, me olhando te olhar. Mergulhando as pernas na água, sentado na beirada da piscina, apoiado nas duas mãos que repousavam numa linha pouco atrás das costas, sorrindo pra mim, com aquela inconsequente mecha do seu cabelo macio e cacheado caindo sem pudores sobre seu olho esquerdo. E você me olhava assim, com cara de quem sabia que eu não poderia resistir a este detalhe.
Eu te olhada por detrás da sacada da janela, sentindo a cortina roçar de leve na minha pele, movimentada pelo toque do vento. Fazia sol e eu podia jurar que todo ele brilhava ao reflexo do seu sorriso. Sorri de volta, tendo uma parte de mim inconformada por ceder à conquista, mesmo que um pouco apenas.
Olhava para a água e para as ondas que seus pés causavam nela. Lembrava dos seus pés entrelaçados nos meus e as ondas de sentimento que isso causava em mim. E seus longos dedos acariciando meu ombro enquanto meu indicador brincava com esse mesmo pedaço rebelde de cabelo, deixando-o cair mais uma vez sobre seu rosto, enrolando-o e desenrolando-o outra e outra vez, feito nossa história.
Pensei em todas as vezes que a luz do sol entrava sorrateiramente pelas gretas na janela, em todas as nossas manhãs de domingo, incomodando suas pálpebras e me fazendo rir enquanto você reclamava de novo e de novo.  E pensei no vento, esse que roçou a cortina em mim e que, como num passe de mágica ou no espaço de tempo de uma piscada, te levou para outros mares, deixando suas cores.
Olhei da sacada da janela seu sorriso que ofuscava o sol. Acordei com a luz entrando pela janela. Era manhã de domingo, mas éramos, então, só eu, a saudade e a cortina que não sabia mais em quem tocar.


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