sexta-feira, 27 de julho de 2007

Do pra sempre que existe II - sobre dois corações que são um

Quem passava por ele na rua se encantava: passos lentos, semblante contente, olhos brilhando. Vestia o velho fraque que ficava guardado para ocasiões especiais. Ajeitava a todo momento a gravatinha borboleta, ligeiramente torta. Um presentinho na mão e muitos pensamentos na cabeça. Não se completa sessenta e um anos de casamento todos os dias. Principalmente se tratando de sessenta e um anos de um amor puro e feliz, como o deles.
O presentinho levado pelas mãos trêmulas era uma singela lembrança para recordar o que viveram juntos. Mandara restaurar a correntinha que dera a ela no primeiro encontro. Numa época em que primeiros encontros significavam intenções sérias. Não como nos dias de hoje em que as pessoas não sabem mais o valor de um sentimento.
Ele amava cada detalhe dela, cada olhar de carinho, cada toque cuidadoso, cada beijo na testa antes de dormir, cada vez que dançavam ao som da mesma música em meio aos últimos raios de sol que o fim de tarde trazia. Ele a amava como jamais amaria a si mesmo.
Não se envergonhava de dizer que ela fora a primeira mulher que conhecera e que seria a única em toda a vida. Porque se a vida tinha algum sentido, era por causa dela.
As meninas da família cresceram sonhando um dia viver um amor assim.
Enquanto andava, sorria ao pensar em cada momento da vida que tinham, até se aproximar do edifício onde sempre moraram. A porta do apartamento estava propositalmente entreaberta; do corredor ele podia ouvir as notas daquela mesma música. As flores sobre a mesa confirmavam o quão especial era essa data.
E lá no canto da parede, próximos a janela, dois olhinhos sinpáticos que mais pareciam duas estrelas, davam luz a um sorriso que guardava um convite especial.
E os dois dançaram mais uma vez, enquanto, serenamente, ele abotoava a velha correntinha ao redor do pescoço dela.



P.s.: Porque o amor não é feito de presentes caros, restaurantes chiques ou viagens pelo mundo. O amor se faz na breve distância entre dois corações que batem no mesmo compasso e só precisam sentir um ao outro para estarem vivos. Talvez seja esse o segredo do "pra sempre".

5 comentários:

  1. ...essa menina quando escreve... Deus do céu... ta perfeito... não tire uma virgula!

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  2. Concordo com oq o anônimo disse... ta muito perfeito, deu até vontade de chorar...
    :')
    mas de alegria...
    bjus

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  3. Esse texto é a prova viva que os contos de fadas existem...
    Não se precisa de castelos luxuosos, cavalos e nem mesmo beleza...
    Tudo issu ja acontece no interior dos velhinhos rs..

    =***

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  4. Esse é o 2º que eu + gosto agora.Realmente, bate até uma vontade de chorar!
    Hj eu tava lendo aquele poema que vc fez pra mim, vou guarda-lo sempre no meu s2!
    bj;*

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  5. Poxa vida!

    Eu nunca me preocupei com o "para sempre" na realidade eu pensava:

    "Afinal, não importa o que acontece mais tarde. Os dois podem descobrir que não conseguem viver juntos. Que ele tem mau hálito e ela não usa desodorante. Que ele deixa toalha molhada em cima da cama e ela deixa calcinhas penduradas por todo o banheiro. Que ele ronca e ela tem TPM. Não, não precisamos saber disso."

    Mas se o "para sempre" for assim, eu não vejo a hora que ele chegue.

    Bjos.

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