quarta-feira, 15 de abril de 2009


Eu, que tanto falo e escrevo sobre o amor – sobre todas as formas de manifestação do amor –, eu que – talvez mais que qualquer ser – tanto acredito no que alguns chamam “a maior das sensações humanas” fui convidada pelos acontecimentos “rotineiros” publicados nos nossos jornais a parar e pensar sobre esse sentimento. E mesmo depois de tanto observar, refletir e procurar, só consigo chegar a uma inconclusão que me leva a perguntar ao mundo – não pude sozinha responder essa pergunta, não dessa vez –: onde está o amor?

Ontem, uma jovem de dezenove anos foi morta e teve suas mãos decepadas; hoje é a moça de vinte anos que teve o corpo esquartejado; a alguns dias atrás foram os tantos ex-namorados possuídos por uma obsessão tamanha suficiente para acreditar que se não fossem eles, não seria mais ninguém, literalmente. E mais corpos frios nas esquinas, mais manchas de sangue pelas ruas, mais famílias corrompidas.

Eu costumava dizer que devíamos ser como as crianças, com a mesma ingenuidade, o mesmo coração puro e a mesma esperança, mas me decepciono ao ler no noticiário o caso do menino de onze anos de idade que, em troca de mil reais, aceitou a proposta de matar um homem. Sem contar com as inúmeras notas sobre os pais-padrastos-desconhecidos que foram presos por abusar a anos de meninas e meninos que mal tem idade para descobrir o que é o mundo além dos seus brinquedos.

Parece mentira, mas não é. É uma verdade feia, fria e cruel, estampada nas capas de todos os jornais a cada manhã. Uma verdade feia, fria e cruel que parece não chocar. Porque cada vez mais vejo pessoas comentarem os fatos como banalidades quaisquer. As pessoas perderam a capacidade de se espantar, adotaram a visão da normalidade, fizeram da exceção a regra.

Temos sido todos cúmplices desse desamor em cadeia. Temos sido espectadores desse interminável velório de cadáveres e de almas. Cadáveres dos que foram mortos, almas dos que mataram.

E o amor tem sido mais difícil de ser encontrado, o amor tem morrido em cada indiferença, e tem levado com ele a esperança que para muitos era a única coisa que restava de bom.

Por isso, eu, em minha humilde posição de devota fiel desse grande sentimento, peço: preserve o amor que existe em você, porque ele existe. Não deixe que o mal da “normose” corrompa o que a de bom aí dentro, que te impeça de se chocar. Não se permita perder o espanto e, se não for pedir muito, perceba o amor. Perceba o amor que te rodeia, foque seus olhos nos lugares mais simples e encontre-o: num gesto, num sorriso, num ato de gratidão, num ato de gentileza, num ato de perdão. Perceba o amor para acreditar no amor. Acredite no amor para multiplicar o amor. Sorria para alguém que passou por você, agradeça, seja gentil, perdoe, exerça sua paciência e sua tolerância, acene para aquela criança que está feliz por estar sentada na cadeira mais alta do ônibus, escute as histórias de um idoso. Descubra-se também como manifestação da luz que o amor trás.

Se você não pode mudar o mundo todo, mude o seu mundo.

Quando cada um se esforçar de forma a mudar a sua realidade, a diferença estará sendo feita e o mundo se tornando um lugar melhor.

Pense um pouco.


Com amor,

Shantal-lis Stoppa

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