Olhava no espelho e
tentava lembrar da menina de cabelos longos embaraçados e as mãos
sujas de lama, como sempre acontecia nas férias de julho. Buscava na
memórias as broncas da mãe, que enlouquecia ao ver sujo o vestido
azul da caçula. Tentava se lembrar das feições da irmã mais
velha.
Hanna era tão bonita,
com seus cabelos castanhos, tão diferentes dos seus, louros como o
sol. Não gostava de prender os cabelos, na verdade nunca gostou de
nada que a prendesse qualquer que fosse o motivo. Usava shorts e
camisetas largas, a contragosto da mãe, e seus tênis imundos, dizia
ela, guardavam suas histórias. Hanna era uma garota bonita, de olhos
verdes e cílios compridos, traços finos e um sorriso modesto, e uma
cabeça diferente de tudo que Ellie conhecia.
- L, olha aqui! Tá
vendo essa lagarta? Feia, neh? Mas daqui a pouco ela vai deixar de
ser assim, sem graça, e vai virar uma borboleta tão bonita como as
que você gosta. Eu também vou. - e sorriu pra irmã, sem dizer mais
palavras.
Quase doze anos depois,
já não existia mais o cabelo dourado nem as mãos sujas; o coração
suplicava por uma bronca, ou qualquer tipo de atenção vinda da mãe,
que perdera a tempos o brilho dos olhos. Virou o rosto na direção
da janela e esperou ver, quem sabe, uma borboleta colorida que a
fizesse voltar, de verdade, no tempo.
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