quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Da urgência

Depois das quase quinze ligações não atendidas, ele retorna, enfim, perguntando assim sem pressa "O que é tão urgente afinal?".
Talvez não seja nada tão urgente, afinal. Talvez não queira falar nada ou queira, por que não, falar tudo. Talvez seja só um dia como outro qualquer em que, diferentemente de outro dia qualquer seja tão necessária aquela ligação. Talvez só um alô e baste, talvez meia hora na linha e não é suficiente. Talvez só escutar a voz pra não se estar mais só.
Talvez precise só de alguém que se sente junto de pernas cruzadas em cima de um sofá, azul ou não, para falar de qualquer coisa, para falar do que não foi, para falar do que deveria ter sido, para matar o tempo, para chorar as mágoas e as proezas, para rir das desgraças e gritar as alegrias, para esquecer, ou talvez só mesmo para lembrar.
Talvez só precise de uma ligação e pronto, e ponto, e depois tututu - do telefone, do coração.
Talvez seja só isso essa urgência toda.
Só talvez.

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