quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dos escritos III - Das saudades


Dentre sua quase coleção de canetas de todos os tipos, escolheu a nanquim. Revirou um pouco o armário procurando o tinteiro e abriu a terceira gaveta da escrivaninha a fim de pegar também seu pequeno caderno de capa bordada e páginas amareladas. Jogou-se na cama e observou o sol se pôr lá fora. Foi com alguns dizeres de Caio Fernando de Abreu que começou a escrever.

"O meu dia só existe porque você existe dentro dele."

Era seu dia de saudade, sua tradição pessoal que começara a mais de uma década. No mesmo dia, a cada mês ela abria seu pequeno livro de memórias e escrevia mais uma vez. Teve mais o que colocar nas páginas desde a última vez que recebera uma carta da irmã perdida, naquele dia em que, sentada em seu Sofá Azul, sentiu um cheiro especial e sentiu seu coração saltar ao ouvir a campainha tocar. Era o carteiro que trazia nas mãos um envelope colorido com pequenos desenhos por todo ele. Mais um peça para seu quebra-cabeçass de lembranças inventadas durante todos aqueles anos.
A brisa que entrou pela janela a fez acordar do devaneio e voltar a atenção para o caderno. A ponta da caneta nanquim deslizava sobre o papel amarelo, manchando sua superfície com palavras em tinta preta.
E outro dia, após mais um.

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