segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

À Ellie

Querida Ellie,



Que surpresa a minha quando desci do táxi e pisei naquele chão com cheiro de terra molhada. Era meio da tarde e a chuva de verão acabara de cair, dando lugar a um sol radiante que se espreguiçava raio a raio, até cobrir todo o lugar. As nuvens tímidas deram lugar ao azul que inundou a paisagem. Fiquei alguns minutos entorpecida em frente ao imóvel. São dois andares pintados de branco, como aqueles dos seus recortes de revista, a varanda cobre os quatro cantos da casa, e uma rede azul anil dorme silenciosa ao lado da porta principal. As janelas são grandes e você poderá empurrá-las com as duas mãos toda manhã, para ver o sol nascer.

Andei em passos trôpegos, subi com um cuidado especial os dois degraus que dão na varanda e estiquei meu braço devagar, abrindo com cuidado a porta, como se evitasse ter a presença percebida, como se o lugar fosse imaculado a ponto de eu não merecer estar ali. A casa toda em madeira me deu um aconchegante sinal de boas vindas. Abri as janelas a fim de deixar o sol chegar, e a brisa de verão se sentiu a vontade para entrar, ocupando cada canto, como se a casa fosse dela. A cozinha se parece com aquelas das casas de vovós que vimos tantas vezes em filmes na tevê. A mesa no centro, com o vaso coberto de flores do campo deu vida ao resto do ambiente. Na sala, um sofá azul faz as vezes, e foi impossível não querer pular nele quando o vi. Experimentei suas almofadas por um momento e observei o teto. Pequenas estrelas, delicadamente pintadas, tomaram minha atenção por um bom tempo.

Subi as escadas devagar, acariciando o corrimão como para guardar a sensação. Os quartos são grandes como salões de festa, os armários embutidos têm espaço para guardar até nossa mobília. As janelas são, na verdade, duas grandes portas que abrem espaço a pequenas varandas, com cadeiras de balanço e almofadas bordadas. Me encontro sentada em uma delas nese momento.

Daqui de cima tenho a visão do pequeno pomar que fica no quintal, meus pés descalços coçam de vontade de tocar novamente a terra. Temos maçãs, laranjas, limões e amoras. Pela manhã os bem-te-vis cantam chamando uns aos outros para comemorar mais um dia que se inicia. As flores no jardim da frente passam a sensação de eterno arco-íris e, sempre às duas da tarde, Bóris, o preguiçoso beagle do vizinho, caminha vagarosamente para se deitar em meio às cores. Observo-o com graça. Chegou aqui antes de mim e também me deu calorosas boas vindas, com beijos regados a baba, como um bom beijo canino deve ser.

O sol começa a se pôr no horizonte, espreguiçando-se mais uma vez, mas recolhendo seus infinitos raios, dizendo “nos encontramos amanhã”.

Logo a noite chegará, e as estrelas de verdade tomarão lugar junto a lua no céu negro. Nesse momento também escurece meu peito e a saudade dói. Mal posso esperar o dia de sua chegada, para pisarmos juntas, descalças, nesse solo mágico, cheio de cores, cheiros e sensações.

Um beijo tão caloroso como o do Bóris.

Te espero.



Mamãe

Nenhum comentário:

Postar um comentário