Lembra quando a gente tentou
escrever um poema juntos? Conseguimos uns três versos e passamos o resto do
encontro e entre risos e conversas... O que você não lembra, ou não sabe, é que
eu sempre me perguntei como teria sido se a gente tivesse conseguido.
Antes de qualquer coisa, você me
viu por dentro. Leu minhas palavras, escutou meus lamentos, riu deles. Gostou
de mim sem esperar nada em troca, por mais que quisesse algo em troca. Respeitou
minha felicidade, sem trapaças, sem maldade, só carinho.
Nessas idas e vindas da vida, de
eu e você, de amizades, sumiços, aparições repentinas, um gole de vinho, uns
acordes, uma noite, uma lembrança e um pra sempre, a gente segue feito o que há
de ser. Encontrei meu caminho e sou tão feliz por ver você encontrando o seu. E
rio sozinha ao pensar que isso era também um pouco do meu desejo mais profundo
pra você: te olhar seguindo a linha do
tapete que te entregará aos olhos e sorriso que, enfim, te pegaram de
jeito.
Você me deu um bocado de memórias
pra chamar de minhas, me “fez bonita como há muito tempo não queria ousar”.
Me deu uma saudade que haverá de ser parte de mim enquanto por aqui eu passar. Uma
saudade doce que vem com um sorriso de gratidão colado no meu rosto feito selo
em cartão postal (desses que a gente nunca há de jogar fora).
Sim, isso é uma carta de amor. Sobre
um amor feito na sua impossibilidade, um amor que só uma amizade louca e
verdadeira reconhece. Isso é uma carta de amor. Uma carta sobre eu e você, sobre
um amor que eu sempre hei de levar nos olhos e na memória.
Você leu minhas palavras, me deu
um bocado das suas, e até hoje sinto um certo cheiro de incenso de lótus tomando
conta de onde eu estiver. E todas as madrugadas gastas em conversas telefônicas
se tornaram música, aquela velha e nossa música, que ninguém mais haverá de
recordar.
Sobre o poema, deixa assim,
interminado, feito a gente. O maior quase das nossas vidas.
Obrigada!